07 abril 2007

HISTÓRIAS DE GUERRA II


"O Gerreiro do Sul na Povoa de Varzim”
Após o “Juramento de Bandeira” em Tavira, tive apenas alguns dias para passar o Natal com a família e, no princípio de Janeiro de 1973, apresentei-me na Povoa de Varzim, para mais um episódio de guerra.
Cheguei era noite cerrada. Logo que saio do comboio fui assediado por várias mulheres que disputavam entre si, a minha hospedagem em suas casas.
A princípio não percebia bem o que pretendiam (os moços do sul são de compreensão lenta ou então andam distraídos com as belezas das praias do sul), mas aos poucos lá fui entendendo que no quartel não havia alojamento, por isso eu teria de me alojar na casa de uma delas.
Sendo assim, escolhi a que me pareceu mais simpática que me alojou num quarto da sua própria casa, muito limpo e arrumado.
A grande distância que me encontrava de casa e o preço das viagens de ida e volta, fez com que durante os dois meses e meio que estive na Povoa, apenas duas ou três vezes fosse gozar o fim-de-semana a Faro.
Certa noite, num dos muitos fins-de-semana que lá passei, bateu-me à porta do quarto, a filha da minha hospedeira, com um secador que não funcionava, para ver se eu o conseguia pôr a funcionar.
A moça seria mais ou menos da minha idade, isto é, vinte e uma bonitas primaveras (que bela idade, não acham?).
Como eu me sentei na cama, ela sentou-se a meu lado. Não sei se propositadamente ou não, encostou-se demasiado a mim, provocando-me um enorme calor que percorreu todo o corpo.
A avaria não passava de um simples fio desligado na ficha mas aquele calor, perturbou-me e fiquei ali a olhar… a olhar… a olhar… para ficha! Claro!
Mas um guerreiro é um guerreiro ainda para mais habituado aos calores do sul e num momento destes qualquer um de vocês faria o mesmo “???”.
Por isso rapidamente controlei a situação, recuperei a calma, devolvi o secador à moça que agradeceu e saiu do quarto. (Que descrição espectacular da acção! Não acham?)
Bom e se querem saber, desde esse episódio até final da minha permanência em sua casa, nunca mais vi a moça. Extraordinário! Porque seria?
Entretanto, na guerra tudo bem, lá fui aprendendo a fazer as ementas, os cálculos e passaram dois meses e meio.
E veio a “semana de campo”. Todos os guerreiros, carregados com os seus apetrechos de guerra, marcharam uns quinze ou vinte quilómetros por estrada quase sempre em alcatrão até à mata que ficava junto a uma praia, onde acampámos.
Com os pés doridos, escaldando, mal avistámos a praia descalçámos as botas, correndo para a água, tentando refrescar os pés, mas eu, guerreiro do sul, com a mesma corrida que entrei, saí!
Eh pá, a água está gelada! Exclamei.
Os guerreiros do norte limitaram-se a sorrir e a continuar na água.
No final do acampamento, regressámos pelo mesmo percurso, tivemos o jantar de despedida, terminou a “especialidade” e passei a “pronto”.
Pelo meio ainda tive tempo de ir ás Antas numa tarde de enorme temporal ver o meu "Farense" apanhar cinco. Também de vez em quando, pela manhã, antes de entrar no quartel, passava pela tasca do Tio João, para comer umas iscas e beber um "quartilho" de vinho tinto verde, aliás o que fazia também muito boa gente, incluindo algumas mulheres de faces bem rosadas e que diariamente não dispensavam o seu “quartilho de tinto verde” (são tramadas as mulheres do norte, não são?).
Foi assim com honra mas sem glória a passagem deste guerreiro do sul, pela Povoa.
Alguns dias mais tarde, iria começar na Amadora, um novo episódio de guerra.
“Vagomestre”.
Ou melhor descrito: -Sargento de alimentação.
O episódio da Amadora contarei numa próxima oportunidade.
Até lá, se não for antes.

Sem comentários: