29 dezembro 2014

FAVAS DOBRADAS

Ao meu amigo José Elias Moreno que receava que o mandasse "à fava" depois de um comentário que fez ás minhas "favas dobradas"...


À fava nunca o mandarei
Mas gostava de lhe dizer
Só no tempo exagerei
Para apressado não parecer!

Seja qual for a receita
Eu por favas sou louco
Se a coisa é bem feita
Até como favas com choco!

Feitas de que maneira for
Quando a comida era escassa
Minha mãe costumava pôr
Favas, até no feijão com massa!

E se a fome me matava
Como se fora um algoz
Comia que me fartava
Umas favas com arroz!

Se já estiver a esbranquiçar
E com água e sal cozinhada
A essa costumamos chamar
Fava de sapatada!

Feitas de toda a maneira
As favas são uma alegria
Ás vezes por brincadeira
Até cruas, eu as comia!

Mas para o meu paladar
Até com algum feitiço
Nada se pode comparar
Ás belas favas com chouriço!

22 agosto 2014

GOSTO

Gosto de ouvir cantar
E também de ver rimar
Uma palavra com outra
Tudo ouço com gosto
E se estou bem disposto
Também faço uma rima ou outra!


Não sou poeta nem nada
Deixo só alinhavada
Uma rima imperfeita
Faço isto porque gosto
De ver um sorriso no rosto
De quem minha rima espreita!


Sou como um poeta acanhado
Que vive todo dobrado
Ao peso da timidez
Num sentimento de culpa
Ele quase pede desculpa
Por estes versos que fez!


Eu não tenho a ousadia
De sequer pensar que um dia
Posso ser poeta afamado
Minhas rimas vou fazendo
Na esperança que as vão lendo
E que seja assim lembrado!




13 junho 2014

PENSAMENTO


Eu penso, penso, penso
Ás vezes tanto penso
Que nem sei o que pensar!
Ando assim entretido
Tantas vezes distraído
Que nem chego a pensar!

Um pensamento à toa
Não é coisa muito boa
Que se possa acreditar!
Mas á falta de melhor
Para evitar o pior
Continuarei a pensar!







23 maio 2014

HISTORIAS DE GUERRA FINAL



Termino as minhas histórias de guerra, com esta foto do destacamento de Bassarel, dos finais de Agosto de 1974, onde se vê o arrear da nossa bandeira, numa cerimónia perante as nossas forças, o PAIGC e a população civil.

Momentos depois no mesmo local seria hasteada a bandeira do PAIGC e nós 3ª. Companhia do Batalhão de Caçadores 4615, terminávamos a nossa missão e abandonaríamos definitivamente o destacamento, deixando para trás alguns dos momentos mais difíceis das nossas jovens vidas.

Por outras palavras este é nem mais nem menos o final desta curta mas muito longa (dois anos) para mim, história de guerra. 

Ficou uma grande história de vida neste esforçado curso de sobrevivência que é a participação não desejada numa guerra de "guerrilhas", num país desconhecido, clima e terra inóspita, com dificuldades de adaptação de toda a espécie, conseguida à custa de muito trabalho e sacrifício.

Pelo meio algumas doenças, como o paludismo, a infecção intestinal e uma fractura de crânio que acabaram por me deixar marcas para o resto da vida.

Da guerra propriamente dita um "ataque ao arame", isto é, fomos atacados dentro do nosso próprio destacamento, felizmente sem qualquer baixa.

Ficaram também algumas sequelas, como aquelas que alguns anos após o regresso ainda nos faziam instintivamente atirar-nos para o chão quando inesperadamente escutávamos qualquer tiro ou o som de um festivo foguete ou aquelas que inconscientemente fazia-nos agredir as nossas companheiras quando a dormir, sonhávamos que estávamos na guerra.

Regressando a Bissau, onde a permanência foi feita na confusão que era o quartel de adidos, apesar de continuar a ser o responsável pela alimentação da companhia, tinha muitas dificuldades em o conseguir, porque eram poucos os recursos e muitos os militares naquele local a aguardar o ansiado transporte para a metrópole, o que no nosso caso só veio a acontecer quase uma semana depois com o embarque no navio que os traria até Lisboa.

Eu, o 1º. sargento Neves e um condutor, havíamos de ficar mais algum tempo até conseguir-mos fechar as contas da companhia e obter os vistos confirmando que tudo estava certo, após o que entraríamos numa lista de espera para o almejado transporte de regresso.

Quase três semanas após o embarque da companhia o meu nome surgiu na lista de embarque numa manhã em que eu desgraçadamente tinha entregue toda a minha roupa militar com a qual podia embarcar, a uma desconhecida lavadeira que não sabia onde encontrar.

Sem tempo para esperar pela lavadeira fui na emergência á intendência militar onde se faziam os espólios e lá arranjei umas calças com umas pernas enormes que tive que cortar e uma camisa. Assim vestido, apresentei-me no aeroporto e embarquei  para Lisboa, onde cheguei nesse dia à noite.

Ainda nessa noite apresentei-me no quartel de adidos, consegui o passaporte militar, apanhei o comboio, terminando a viagem na manhã do dia 29 de Setembro, na minha cidade de Faro.

Sem honra nem glória que tão pouco procurava,  encerro este capitulo de histórias de guerra. 


24 abril 2014

HISTORIAS DE GUERRA XII


(Atrás da  "tabanca" que se vê ao centro, está a "mangueira" desta história)

Nas minhas histórias de guerra, recordo hoje, aquele dia em Bassarel, Guiné-Bissau, em que um dos dois ajudantes civis que trabalhavam na cozinha, resolveu ir tirar um grande favo de mel que há muito ia crescendo numa mangueira que estava mesmo atrás do comando da companhia.

A árvore teria entre os 10 e os 12 metros de altura e servia de base à antena de radiocomunicações.

O favo estava suspenso num dos ramos mais altos e afastados o que tornava a tarefa difícil e arriscada, mas o homem não hesitou.
Lá foi trepando até muito próximo do alvo, começando de seguida a espicaçá-lo com uma vara, tentando atirá-lo ao chão, o que fez enfurecer as abelhas que imediatamente o cobriram de picadas.

O homem que apenas vestia uns calções, tinha o corpo à mercê das abelhas mas não desiste e tenta mais uma vez, com a vara, atirar o favo ao chão.

Eu e mais alguns camaradas assistíamos à cena entre divertidos e apreensivos sem saber o que iria acontecer ao homem que já tinha o corpo coberto das cada vez mais enfurecidas abelhas.

Após várias tentativas finalmente o favo desprende-se e cai.

O homem apressa-se a descer da árvore, mas as  abelhas não o largam e mal chega ao chão, deita-se e rebola na areia que atira aos punhados sobre si. De repente levanta-se, corre, afastando-se o mais rápido possível daquele local.

Ficam as risadas dos que como eu assistiam àquela inesperada cena.

Passado algum tempo, o homem regressa, com sinais de muitas picadas.

Sorridente, vem recolher o mel, prémio mais que merecido para quem destemidamente enfrentou não só a arriscada subida e descida da árvore, como as inúmeras abelhas que aliás continuavam à volta do favo agora no chão.

É entre abelhas, picadas, favos de mel e mangueiras que termina este episódio de guerra.

Entretanto passaram quarenta anos, desde que um batalhão de jovens guerreiros a quem chamavam soldados, desembarcou de um tal navio Niassa, numa para eles desconhecida terra, denominada Guiné-Bissau.

Pretensamente iriam defender aquele território dos ataques terroristas (que afinal eram os seus naturais), lutando até com a perda das suas próprias vidas.

Essa luta iria tornar-se inglória alguns meses mais tarde, com o reconhecimento de que os guineenses tinham direito à sua independência !

Quanto a nós, os que regressaram e sobreviveram, continuamos com estas e outras recordações!


NÃO PRECISO DE MAIS NADA


Pobre posso parecer
Posso até nem viver
Uma vida regalada
Mas se saúde eu  tiver
Amigos, família, mulher
Não preciso de mais nada!


Para quê tanta ambição
Vivendo em aflição
Numa vida em correria
Tudo acaba afinal
De uma forma igual
E sem nenhuma alegria!


Eu não gosto de parecer
Aquilo que não posso ser
Quem não gostar não gostou
Amigo sincero, capaz
Honesto, sendo incapaz
De fingir o que não sou!


14 abril 2014

MEUS VERSOS


Sem muita pressa dos fazer
Faço os meus versos com calma
Parecendo nada dizer!
Digo o que me vai na alma


Meus versos não são flores
De um jardim florido
São mais como as dores
Dum corpo dolorido!


Palavras alinhavadas
Numa rima para fazer
São ideias confessadas
Que estava a esconder!


Desta forma me confesso
De outra não sou capaz
Tenho a alma do avesso
E eu escondo-me por traz!

04 abril 2014

DIZES-ME


Dizes-me que isso não se faz
E causas-me logo embaraço
Porque eu só sou capaz
De fazer aquilo que faço!

Fazer o que nunca fiz
Talvez, um dia, vamos ver!
Como o velho ditado diz
Está guardado o bocado, para quem o há-de comer!

Comer é como quem diz
Isto em sentido figurado
Fazer o que nunca fiz
Só se for mesmo obrigado!

Resta-me apenas dizer
O que a todos pedirei
Não me obriguem a fazer
Aquilo que fazer eu não sei!