27 julho 2011

HISTORIAS DE GUERRA XI

"Pessoal, manga de catota!..."

Recordo hoje um pequeno episódio de guerra que ocorreu em 1974, na zona de Bassarel.

Diariamente um grupo de combate, da 3ª. Companhia, do Bat. Caç. 4615, sediada em Bassarel, fazia o patrulhamento da área, a fim de garantir a segurança do pessoal e detectar qualquer movimento suspeito das forças contrárias.

Certo dia, no decorrer de um patrulhamento, o grupo  segue pela orla da floresta  rodeando uma "Bolanha" que naquela altura do ano estava praticamente seca. O terreno fazia uma inclinação e na parte mais baixa subsistia ainda um pequeno poço de água que por vezes era aproveitado por elementos da população para as suas necessidades de banho e lavagem de roupa.

De repente eis que no outro lado da bolanha, a uma distância de 400 ou 500 metros, surge uma mulher que desprevenidamente se despojara da sua roupa e caminhava em direcção á água. Ao avistar a tropa a mulher pára e em geito de desafiador convite, grita:

-Pessoal, manga de catota!!!...

Ao ouvir esta frase o "Gato", alcunha de um dos nossos elementos impulsivamente arranca em direcção á mulher correndo desalmadamente pela bolanha fora!
Pelo caminho vai largando todo o equipamento que o possa atrapalhar na corrida. Tropeça aqui, cai acolá, continua a correr, na ânsia de chegar rapidamente junto da mulher.

Ao ver esta desenfreada corrida, a mulher entra rapidamente na floresta e desaparece.

O Gato continua a correr, até chegar ao outro lado, onde já não encontra a mulher.

Desiludido pelo inesperado desaparecimento, escuta atrás de si, as gargalhadas dos camaradas que aguardavam expectantes o desenlace desta acção.

Regressa ofegante, cansado, recolhendo todos os objectos que tinha deixado para trás e recebe uma valente reprimenda do comandante da patrulha. Com aquela impensada atitude tinha posto em risco não só a sua vida, como a vida de todos os seus camaradas de patrulha.

Felizmente foi apenas uma brincadeira da mulher e não uma perigosa armadilha como o comandante e os outros, chegaram a supor.

Para o Gato foi uma humilhação que teve de suportar por muito tempo, aguentando a chacota dos seus camaradas que de vez em quando faziam questão de lhe relembrar a cena.

Também eu, hoje, a relembro nestas minhas histórias de guerra ... apenas e só para vos dizer que apesar de tanto tempo passado, estes episódios continuam bem vivos na memória.

Se por um acaso, algum destes camaradas ler esta história, dê um sinal que pode ser apenas... eu estive lá!