13 novembro 2006

O ZÉ, A VESPA E O MANEL

“A Magana

O Zé já não sabia o que lhe havia de fazer, dava ao pedal, repetia a pedalada e nada.
Depois de muito teimar resolveu, tirar a tampa que cobria o motor e armar-se em mecânico.
O Manel que assistia sorridente e curioso a este percalço, foi-se chegando para o pé dos dois, Vespa e Zé, na expectativa de poder ajudar.
Não tardou nada e já o Manuel estava agachado junto à Vespa, no lado oposto ao do Zé. Enquanto o Zé dava ao pedal de arranque, o Manel espreitava o motor, na expectativa de vislumbrar alguma coisa que lhe dissesse o que se passava.
Era noite cerrada, a fraca luz da lâmpada que iluminava a rua, não deixava ver bem, a “coisa” parecia complicada.
Talvez faltasse alguma coisa, quase de certeza que faltava, mas o Zé não atinava com o problema.
Apesar do frio, o Zé transpirava por todos os lados. Era horas do jantar e a Vespa não dava sinais de querer abalar. Mais uma pedalada e nada. O pior é que o motor daquela 125, tinha uma compressão que ao fim de várias pedalas, deixavam o Zé, além de irritado, muito cansado!
De repente o Manel espreitando o teimoso motor, pareceu-lhe ver uma pequena faísca, azulada saindo ali da parte de cima e ao mesmo tempo que avisava o Zé, colocava a ponta do dedo indicador, no sitio onde vira a faísca.
Sem perceber de imediato o que se estava a passar, o Zé deu mais uma valente pedalada no pedal de arranque.
De imediato, o bom do Manel sente um enorme esticão, dá um valente salto, desenrola-se todo e cai para trás no chão molhado.
Tinha recebido uma forte descarga eléctrica, vinda directamente da bobine e que se destinava à vela, mas devido a um mau contacto deixava saltar uma leve faísca atraindo a atenção e o dedo espetado do pobre do Manel.
Uns bons volts de corrente alterna quase deixaram o Manel a dormir.
O pior foi quando se levantou, o Manel exclamou meio zangado, meio admirado, eh pá, a “magana” dá choque!!!
Quase que me arranca o braço!!!
A magana era, no dizer do Manel, a Vespa.
Desta vez foi o Zé a sorrir, na verdade o amigo sem saber tinha descoberto onde estava o problema.
Foi só apertar a porca que segurava o fio da bobine ao carapuço da vela, dar mais uma pedalada, já está, o motor da Vespa começou a bater de novo, fazendo ouvir o belo som indicativo que tudo já estava bem.
Bom só restava agradecer ao Manel, a sua dedicada ajuda e para isso nada melhor do que estacionar a Vespa, entrar na Taberna e pedir um bom “bagacinho” que vinha mesmo a calhar para aquecer o coração, o estômago e a alma do Manel.
Obrigado Manel, se não fosses tu, talvez ainda agora eu estava a dar ao pedal, para o raio da Vespa pegar!
N`a faz mal, replica o Manel, os amigos são para isso mesmo, mas a magana quase que me arrancava o braço, repete, n’a viste?
Vi, vi, digo eu meio a sorrir, a magana dá um coice forte n’a dá?
Dá, dá, repete o Manel empinando mais um bagaço.
Vendo que a cena do bagaço iria repetir-se por muitas vezes, sim porque o Manel, não era moço de um bagaço ou dois, o Zé interrompeu este repetitivo diálogo, agradecendo mais uma vez e dizendo, eh pá vou-me embora porque tenho a mulher com o jantar há espera, se não fosses tu bem podia ela esperar.
Saiu de imediato porque o Manel já ensaiava a sua característica frase e tantas vezes repetida “n’a pagas mais um?”
Bom, já agora, se não fosses tu Manel, também eu não tinha esta história para contar!
Obrigado!
Ou será que eu inventei esta história e ao contrário de outras histórias, a única coisa verdadeira aqui são as personagens. Tudo o resto foi inventado!?
Agora também não importa, porque a ser verdadeira, esta história tem já mais de trinta anos!
Trinta anos, imaginem!
E a mim parece-me que foi ontem!
Bom vou-me embora antes que vocês me peçam mais uma história e porque tal como há trinta anos atrás, tenho a mulher e o jantar à espera.
Obrigado por terem a paciência de ler esta história.
Também se não fossem vocês, talvez nem sequer a tivesse escrito.
Talvez, quem sabe?
E já agora, se virem por aí o Manel, dêem-lhe cumprimentos meus e digam lhe que eu ando doido à procura da magana, a Vespa que se foi embora há mais de vinte anos, mas ainda hoje, parece-me ouvir o palpitar do seu motor.
Tenho saudades pronto!
O que é que querem!
Há, mas podem ter a certeza que se a encontrar não a deixarei partir outra vez!
Eh pá, com esta conversa toda, até me esqueci do jantar!
E da mulher!
Até à próxima, se não for antes!

1 comentário:

Anónimo disse...

Será esta mesma Vespa a protagonista das várias viagens do agregado familiar e que se portava muito bem,boa recordação dos belos tempos e linda prosa,cumprimentos,Leonel Augusto