Não se inventa, não se troca
Nem outras coisas tais!
Para a tradição manter
É simplesmente fazer
Como fizeram nossos pais!
No primeiro dia do ano fomos ouvir as charolas, uma tradição que cada vez mais, se vai acomodando aos palcos dos salões das coletividades e dos teatros municipais, abandonando aos poucos a verdadeira tradição e razão de ser da charola que era o de ir de casa em casa, mostrando o "Menino Jesus", cantando em seu louvor, saudando com votos de festas felizes e desejando um bom e prospero Ano Novo.
Naturalmente que os tempos são outros e as tradições se vão moldando ás novas exigências, quer de conforto quer de espetáculo.
Conforto, para os charoleiros e para o publico que prefere o aconchego dos salões e dos teatros.
Espetáculo, também igualmente para os charoleiros que agora tocam e cantam num palco, com apoio de luzes, microfones e para o publico que também vê e ouve melhor.
O que nos preocupa no que toca à sobrevivência da verdadeira charola não é tanto o que atrás referi, mas sim o fato de aos poucos, ir mudando o seu verdadeiro significado e transformado num simples espetáculo musical.
Hoje, os charoleiros ignorando esses valores, optam pelo espetáculo, priorizando as chacotas, as brincadeiras, as brejeirices que obtêm mais palmas e sorrisos da assistência, em desfavor dos cantos ao Menino que são desapreciados.
As denominadas valsas das vivas, monopolizam quase toda a atenção, onde as saudações e vivas deram lugar ás brejeirices e brincadeiras que teriam lugar em qualquer revista teatral.
Enquanto aos cantos foram dedicados 3 ou 4 minutos, as "vivas" decorreram durante exagerados 15 a 20 minutos, a maioria nada tendo a ver com vivas (saudações), próprias da época natalícia, reis e ano novo.
Atualmente as charolas não cantam para o povo, cantam para o publico.
Inconscientemente vai-se incutindo a ideia errada, de que isto é a charola, ignorando que a charola é aquela pequena caixa onde simbolicamente se transporta a imagem do Menino Jesus que evoca o seu nascimento e que percorre toda a assistência, pedindo a esmola.
Auto denominar-se por charola, sem a presença da caixa do Menino Jesus, não faz sentido.
A maioria das charolas não fazem (ou tiram) vivas, tocam simplesmente a valsa, ente o canto velho e o canto novo.
Apenas as charolas dos concelhos de Faro, Loulé e São Brás de Alportel, "tiram" (fazem) vivas, interrompendo constantemente a valsa para as fazer.
Também na tradição original, na Conceição de Faro, não se tiravam vivas. Aqui, as vivas começaram com a charola da Casa do Povo.
Este breve texto apenas constata uma situação, não inclui qualquer critica aos grupos ou charolas que naturalmente fazem o seu melhor, para melhorar o espetáculo e agradar ao publico.
Se agradar ao publico é importante, tão ou mais importante será manter uma tradição secular como é o caso das charolas.
Cabe ás novas gerações assumir e dar seguimento, ao que herdaram dos seus pais e avós, no que diz respeito aos seus costumes, para que não se perca definitivamente a verdadeira charola.