11 janeiro 2017

CHAROLAS OU CHAROLEIROS

Quase a terminar esta época das charolas, gostava de resumidamente deixar algumas notas sobre o que vi e ouvi nas apresentações e actuações dos vários grupos que tive o prazer de ver actuar.

Charola ou charoleiro
Um grupo de pessoas não constitui um grupo de charolas, mas apenas uma charola. Se quisermos podemos designar uma pessoa por charoleiro.

Charolas ou Janeiras
Actuando no mesmo espaço temporal, ou seja, entre o Ano Novo e os Reis, são no entanto bem diferenciadas nos seus reportórios, na sua composição física e existência geográfica.

As charolas são uma tradição regional, representadas unicamente por cerca de duas dezenas de grupos, existindo no nosso país apenas na zona do sotavento algarvio.

As Janeiras são uma tradição nacional, representadas por várias centenas de grupos, existem em todas as outras zonas do pais.

Tiram-se ou Atiram-se "Vivas"
A valsa é das vivas, isto é, tiram-se vivas (significa fazer, dar).

As chacotas podem-se atirar, no caso de uma graça ou piada  (significa mandar a alguém no sentido de critica ou provocação).

 As vivas saúdam, agradecem, enaltecem, enquanto as chacotas brincam, criticam, satirizam, provocam.

Ambas as formas são usadas indiscriminadamente nas charolas e são feitas em verso improvisado normalmente na forma de quadra ou cestilha.

Canto Velho
Este é o primeiro dos cantos apresentado no reportório.

É cantado num estilo antigo, no qual os versos são em quadra, cantados pelo principiador, dois a dois e repetidos igualmente pelo coro (respondedores).

Normalmente cada charola adopta o seu estilo para o canto velho que vai repetindo ao longo dos anos.

Canto Novo
Este é sempre o último canto a ser apresentado no reportório.

É cantado num estilo mais moderno, no qual os versos são em cestilhas ou até quadras mas cantadas duas a duas, pelo principiador e o coro (respondedores) canta um estribilho.

Talvez por analogia com nome "Canto Novo", cada charola faz questão de todos os anos apresentar um canto novo diferente.
No entanto deve entender-se "Canto Novo" pelo "estilo" novo, actual e não por ser um canto que se renova a cada ano.

Entrada
A charola toca uma marcha ou pasodoble para iniciar a apresentação do reportório.

Saída
A charola toca uma marcha que pode ou não ser cantada para terminar a apresentação do reportório.

Caixa do Menino ou Charola
Mantém-se junto ao grupo até terminar o Canto Velho, iniciando o peditório enquanto começam as vivas e até percorrer toda a assistência.

Conclusão
No seguimento destas regras básicas constatei que actualmente apenas três charolas cumprem integralmente o reportório sendo que mais uma charola cumpre parcialmente porque embora apresente os dois cantos, são ambos de estilo novo.

Muitas charolas com os dois cantos tradicionais exemplarmente tocados e cantados, apenas o senão da valsa sem as vivas, têm também a entrada e a saída com marchas e ou pasodobles.

Todas estas charolas apresentam a "Caixa do Menino" e pedem esmola.

Talvez numa tentativa de inovar, duas charolas apresentam-se com todos os seus elementos de traje igual, o que foge à tradição.

Constatei também que uma charola de Santa Barbara de Nexe, embora no estilo tradicional próprio desta freguesia, isto é, sem os cantos ao Menino, introduziu a Caixa do Menino com a qual pede esmola.

Uma pequena alteração que faz toda a diferença em relação a todas as outras charolas da freguesia.

Notas finais
Tradicionalmente as charolas saiam para ir de casa em casa e só à noite se apresentavam no clube ou sociedade recreativa local, para um publico mais numeroso.

Actualmente são várias as solicitações para festivais e encontros de charolas e os grupos desdobram-se em múltiplas actuações deste género, indo muito além das datas tradicionais.

Teremos de estar atentos para que a charola não se transforme num simples espectáculo de palco, saindo do seu meio natural, do seu contexto tradicional e não esqueça a sua raiz popular que lhe permite actuar em qualquer local, na rua, nos pequenos espaços públicos de convívio, em casa das pessoas, para pequenas audiências.

Há algum tempo que os grupos vêm de forma informal,  reclamando o seu reconhecimento como património cultural e já é tempo de alguém responsável pela cultura na nossa região, lhes dar a adequada resposta.

09 janeiro 2017

ALEGRIA OU DOR


O meu coração e o amor
Têm um casamento perfeito
Vivem na alegria ou na dor
Que moram dentro do meu peito!