24 abril 2014

HISTORIAS DE GUERRA XII


(Atrás da  "tabanca" que se vê ao centro, está a "mangueira" desta história)

Nas minhas histórias de guerra, recordo hoje, aquele dia em Bassarel, Guiné-Bissau, em que um dos dois ajudantes civis que trabalhavam na cozinha, resolveu ir tirar um grande favo de mel que há muito ia crescendo numa mangueira que estava mesmo atrás do comando da companhia.

A árvore teria entre os 10 e os 12 metros de altura e servia de base à antena de radiocomunicações.

O favo estava suspenso num dos ramos mais altos e afastados o que tornava a tarefa difícil e arriscada, mas o homem não hesitou.
Lá foi trepando até muito próximo do alvo, começando de seguida a espicaçá-lo com uma vara, tentando atirá-lo ao chão, o que fez enfurecer as abelhas que imediatamente o cobriram de picadas.

O homem que apenas vestia uns calções, tinha o corpo à mercê das abelhas mas não desiste e tenta mais uma vez, com a vara, atirar o favo ao chão.

Eu e mais alguns camaradas assistíamos à cena entre divertidos e apreensivos sem saber o que iria acontecer ao homem que já tinha o corpo coberto das cada vez mais enfurecidas abelhas.

Após várias tentativas finalmente o favo desprende-se e cai.

O homem apressa-se a descer da árvore, mas as  abelhas não o largam e mal chega ao chão, deita-se e rebola na areia que atira aos punhados sobre si. De repente levanta-se, corre, afastando-se o mais rápido possível daquele local.

Ficam as risadas dos que como eu assistiam àquela inesperada cena.

Passado algum tempo, o homem regressa, com sinais de muitas picadas.

Sorridente, vem recolher o mel, prémio mais que merecido para quem destemidamente enfrentou não só a arriscada subida e descida da árvore, como as inúmeras abelhas que aliás continuavam à volta do favo agora no chão.

É entre abelhas, picadas, favos de mel e mangueiras que termina este episódio de guerra.

Entretanto passaram quarenta anos, desde que um batalhão de jovens guerreiros a quem chamavam soldados, desembarcou de um tal navio Niassa, numa para eles desconhecida terra, denominada Guiné-Bissau.

Pretensamente iriam defender aquele território dos ataques terroristas (que afinal eram os seus naturais), lutando até com a perda das suas próprias vidas.

Essa luta iria tornar-se inglória alguns meses mais tarde, com o reconhecimento de que os guineenses tinham direito à sua independência !

Quanto a nós, os que regressaram e sobreviveram, continuamos com estas e outras recordações!


NÃO PRECISO DE MAIS NADA


Pobre posso parecer
Posso até nem viver
Uma vida regalada
Mas se saúde eu  tiver
Amigos, família, mulher
Não preciso de mais nada!


Para quê tanta ambição
Vivendo em aflição
Numa vida em correria
Tudo acaba afinal
De uma forma igual
E sem nenhuma alegria!


Eu não gosto de parecer
Aquilo que não posso ser
Quem não gostar não gostou
Amigo sincero, capaz
Honesto, sendo incapaz
De fingir o que não sou!


14 abril 2014

MEUS VERSOS


Sem muita pressa dos fazer
Faço os meus versos com calma
Parecendo nada dizer!
Digo o que me vai na alma


Meus versos não são flores
De um jardim florido
São mais como as dores
Dum corpo dolorido!


Palavras alinhavadas
Numa rima para fazer
São ideias confessadas
Que estava a esconder!


Desta forma me confesso
De outra não sou capaz
Tenho a alma do avesso
E eu escondo-me por traz!

04 abril 2014

DIZES-ME


Dizes-me que isso não se faz
E causas-me logo embaraço
Porque eu só sou capaz
De fazer aquilo que faço!

Fazer o que nunca fiz
Talvez, um dia, vamos ver!
Como o velho ditado diz
Está guardado o bocado, para quem o há-de comer!

Comer é como quem diz
Isto em sentido figurado
Fazer o que nunca fiz
Só se for mesmo obrigado!

Resta-me apenas dizer
O que a todos pedirei
Não me obriguem a fazer
Aquilo que fazer eu não sei!