07 outubro 2008

RIMA COM ÁGUA

"Até faço um fontenário..."

ALGUEM ME PEDIA ASSIM
FAZ UMA RIMA PARA MIM
PARA RIMAR COM ÁGUA
E LOGO FIQUEI A PENSAR
P’RA DA ÁGUA ESCAPAR
BASTA PÔR UMA TÁBUA!

MAS DISSE CÁ PARA MIM
QUEM PEDE RIMA ASSIM
DEVE ESTAR A BRINCAR
DECERTO JÁ SABERÁ
QUANTO DIFICIL SERÁ
É SÓ P’RA ATRAPALHAR

MAS EU NÃO ME ATRAPALHO
METO MÃOS AO TRABALHO
ESTA RIMA NÃO ME EMPATA
PUXO O IMAGINÁRIO
ATÉ FAÇO UM FONTENÁRIO
E JÁ TENHO ÁGUA Á FARTA!

E PARA QUE NÃO SE DIGA
QUE ISTO É SÓ CANTIGA
NÃO EXISTE IMAGINÁRIO
DEIXO A RIMA PRETENDIDA
Á LAIA DE DESPEDIDA
EM BAIXO NO COMENTÁRIO!

06 outubro 2008

HISTÓRIAS DE GUERRA X

"Sentado em cima de uma bomba..."

Este episódio de guerra decorre a partir do momento em que tive de me deslocar ao Destacamento de Chulame. Em zona de guerra, as deslocações e transportes eram feitas com escolta ou em colunas militares naturalmente também escoltadas.
Em zonas consideradas mais perigosas as escoltas eram reforçadas pelos tanques de guerra, Panhard.

Na manhã daquele dia um Grupo escoltou-me até Chulame, ficando combinado que eu regressaria ao início da noite numa coluna de transporte de víveres que viria de Teixeira Pinto, passava próximo de Chulame e Bassarel, com destino a Calequisse.

No início da noite fui escoltado até á “picada” que ligava Teixeira Pinto a Calequisse e aí ficámos á espera da coluna.

Era noite cerrada, escondidos no mato, aguardámos.

Finalmente do escuro começam a surgir os veículos da coluna.
Mostrei-me junto á picada, para que fosse identificado. O Comandante da coluna havia sido préviamente informado da minha presença naquele local, aguardando transporte para Bassarel.

Deixei passar os primeiros hunimog que transportavam os grupos de combate e á passagem da segunda ou terceira Berliet que transportava víveres fiz sinal para parar, para que pudesse subir.
Tudo se fez quase em silêncio. Subi rapidamente para a berliet, sentei-me ao lado do seu condutor que retomou a marcha, mantendo a distância conveniente entre os veículos, de forma a não perder o contacto visual com o veículo da frente. O veiculo de trás procedia de igual forma, mantendo a distância.
No escuro não vi, nem tão pouco me preocupou o tipo de carga que transportávamos nem sequer estranhei o facto de não viajar mais ninguém naquele veículo.
Estava totalmente alerta para o perigo que poderia vir do mato que envolvia toda a picada.
Os veículos iam avançando lentamente e com muita precaução. Em silêncio, de olhos fixos no mato, prescutava a noite, na tentativa de detectar qualquer movimento suspeito naquela enorme escuridão.
Estávamos a chegar a Bassarel, a tensão baixou um pouco, o camarada guerreiro que em silêncio conduzia a berliet, sussurrou:
- Até que enfim! Que perigo dos diabos!
Eu, também um pouco mais aliviado concordei:
-Eh pá, é verdade!
Ele continuou:
- Isto de virmos sentados em cima de bidões de gasolina …
-O quê? Gasolina?! Perguntei sobressaltado.
-Sim gasolina, não sabia?
-Não! Respondi, saltando á pressa da Berliet. Afasto-me o mais rápido possível.

Entre tantas Berliet que integravam aquela coluna a sorte fez-me acertar naquela que carregada com bidões de gasolina, era uma autêntica bomba. Um só tiro seria o suficiente para ir pelos ares, sem escapatória possível.

Estava explicado o facto de não seguir mais ninguém naquele carro! Pudera! Eu era o único que tendo apanhado a coluna a meio do percurso, não sabia o conteúdo dos bidões.

Felizmente cheguei ao destino sem qualquer contratempo, para além daquele susto que apanhei mesmo á chegada.

A coluna prosseguiu até Calequisse sem acidentes.

Fiz centenas de deslocações, umas vezes apenas com escolta, outras integradas em colunas, várias vezes até Bissau, onde carregava alimentos.

Muitas vezes, passei por locais onde horas atrás tinham havido problemas, com os sinais evidentes de luta. Via restos de veículos destruídos, ainda a fumegar junto á picada. Quis o destino, a sorte ou simplesmente o acaso que nunca tivesse problemas desse género.

Após algum tempo a viver estas situações de guerra, parecia já ter envelhecido, dez ou quinze anos, apesar da juventude dos meus vinte e três anos.
O meu rosto já não espelhava alegria, mas sim, preocupação, medo, angústia e sobretudo saudade.

Uma enorme e angustiante saudade, da família, dos amigos, da terra onde nasci.

Situação válida para todos os jovens guerreiros que tal como eu, estavam naquela guerra.

Anos mais tarde ainda me perseguiam os traumas. Qualquer estrondo quer de tiro ou simples estalar de um foguete me provocava uma reacção nervosa instintiva.

Agora, passados mais de trinta anos, esqueci quase por completo.
Apenas uma ténue recordação.
Sem mágoa.
Até ao próximo episódio.